“Casal é morto violentamente nas proximidades
de casa”. Não, definitivamente, não. Não quero saber de tal notícia. O meu medo
sempre foi esse – de que isso pudesse acontecer -, desde o momento que os vi
pela primeira vez, há alguns dias.
Está certo. Não se trata exatamente de um
casal de pombinhos, mas e o que é que tem? Tão logo os vi, julguei nunca ter me
deparado antes com algo a transmitir tanta beleza como aqueles dois.
Temo pela vida deles, só que os tolinhos
parecem ignorar o risco. Foram escolher para morar justo um lugar tão
perigoso... E como brigam, meu Deus! O pior é que nessas brigas, em tom
histérico, sobram algumas broncas até mesmo para mim. Parece que eles não sabem
o quanto gostei e gosto deles, ainda que os ache muito imprudentes.
Veja só se não tenho razão: moram num lugar
tão arriscado e ainda pretendem ter e criar os filhos lá. Não, haja
imprudência! Será que ainda não perceberam o inimigo à espreita? Sim, porque, à
primeira oportunidade, eles não escapam! Vão acabar mortos, assassinados!
O pior disso tudo é que eu não posso fazer
nada. Não me ouvem! E parecem mesmo sentir uma espécie de mágoa por mim, sempre
me olham com aquele ar de reprovação, como se eu fosse uma intrusa. É como se estivesse a invadir a vida deles e
não eles a entrar pela minha. Não pedi para que aparecessem. Mas, já que
apareceram, é melhor que se cuidem.
Também não posso fazer nada em relação ao
inimigo deles, não tenho poder de ação frente a ele. Gosto dele também. E, às
vezes, até acho que ele tem suas razões...
Apesar de tudo, ainda me sinto tão impotente!
Eu sei que ele irá matá-los, e a qualquer momento. Posso sentir na frieza
daquele olhar todo o plano a se formar calculadíssimo. O casal não durará muito
tempo.
Ah, aquela felicidade de amor novinho, ainda
inocente dos perigos, irá se desvanecer num único instante! Será que o
assassino é cuidadoso ou os amantes é que são estúpidos? Não sei. Talvez as
duas coisas. Mesmo se os considerarmos estúpidos, ainda assim não dá para
compreender a decisão de morar naquele lugar. Eles deveriam ao menos sentir o
perigo. Sei lá, ter algo como um instinto de sobrevivência, por menor que seja.
Mas, se o crime acontecer, vai ser difícil
que ocorra no alto da casinha deles, na samambaia dependurada. No máximo, Fredo
vai atacá-los nas redondezas da área de minha casa, onde se encontra a planta.
Ninho em samambaia... Que ideia, meu Deus! E ainda por cima tão próximo das
garras de Fredo. Os passarinhos, mesmo na sua miudeza, já deveriam saber: o
instinto felino dele é implacável...
Novembro
de 2004.
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